A qualidade do sono e a saúde mental estão profundamente entrelaçadas. Assim como outros distúrbios como a ansiedade e o estresse, o sono e depressão estão intrinsecamente interligados, a ponto de se confundirem entre si. Sabe aquele ditado, “quem veio antes, o ovo ou galinha”? Muitos especialistas se deparam com um dilema semelhante e não conseguem dizer se a insônia é a causa ou o efeito da depressão. Neste artigo, exploraremos as conexões intricadas entre o sono e a depressão, revelando como um pode afetar o outro e vice-versa. Confira!
O que é depressão

A depressão é um distúrbio de saúde mental cujos principais sintomas são: sentimentos persistentes de tristeza, desespero, falta de interesse ou prazer em atividades agradáveis, fadiga, alterações no apetite e no sono, dificuldade de concentração, sentimentos de culpa ou inutilidade, baixa autoestima e pensamentos suicidas. Ou seja, é uma condição que afeta a maneira como uma pessoa pensa, sente e age, prejudicando significativamente sua qualidade de vida e seu funcionamento diário.
A depressão pode variar de leve a grave e pode ser uma condição de curto ou longo prazo. Quando os sintomas persistem por pelo menos duas semanas e interferem nas atividades cotidianas, é geralmente diagnosticada como um episódio depressivo maior. Além disso, o distúrbio também pode ser recorrente, com episódios repetidos ao longo da vida de uma pessoa.
É importante notar que a depressão não é apenas uma tristeza passageira ou um estado de espírito temporário. É uma condição médica real que exigi tratamento, que pode incluir terapia psicológica, medicamentos antidepressivos, ou uma combinação de ambos. O apoio social, a prática regular de exercícios e a adoção de hábitos de vida saudáveis também podem ser componentes importantes do tratamento. A busca de ajuda profissional é fundamental para ajudar as pessoas a enfrentar e superar a depressão.
A relação entre sono e depressão
A depressão é um distúrbio de saúde mental relativamente prevalente. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (PNS), no Brasil, aproximadamente 16,3 milhões de indivíduos são afetados por esse transtorno. Esse número representa mais de 10,2% da população adulta, indicando um aumento de 2,6 pontos percentuais em comparação com a pesquisa anterior realizada em 2013.
Ambas as pesquisas consideraram apenas pessoas com 18 anos ou mais. É importante destacar que essa taxa é mais do que o dobro da média global, que é estimada em 5% pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar da alta incidência de depressão em todo o mundo, persistem muitas dúvidas e estigmas associados a essa condição, assim como à sua relação complexa com o sono.
A relação entre sono e depressão é complexa e bidirecional, o que significa que o sono pode influenciar a depressão e vice e versa. Desse modo, tanto a insônia (falta de sono) quanto a hipersônia (sono excessivo) podem ser sintomas da doença.
Insônia e depressão
A depressão está associada a desequilíbrios nos neurotransmissores, como a serotonina, que desempenham um papel importante na regulação do sono. Esses desequilíbrios podem afetar negativamente a qualidade do sono.
Assim, a depressão pode causar insônia devido a uma série de fatores. Entre eles está o aumento da atividade cognitiva durante a noite, o que pode dificultar o relaxamento e o adormecimento. Pensamentos negativos, preocupações e ruminação sobre problemas podem ocorrer mais intensamente à noite, dificultando desligar a mente.
Além disso, a depressão pode perturbar o ciclo circadiano normal, que regula o ciclo sono-vigília. Isso pode resultar em padrões de sono irregulares, como acordar cedo demais e não conseguir voltar a dormir.
O medo do sono também é outro fator que pode dificultar o adormecimento devido a experiências anteriores de pesadelos, insônia ou pensamentos negativos que surgem à noite. Esse medo pode criar ansiedade em relação ao sono, tornando ainda mais difícil adormecer. Por fim, alguns medicamentos antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), podem afetar o sono e causar insônia como efeito colateral.
Sono excessivo e depressão
O sono excessivo, também conhecido como hipersonia, é uma condição em que uma pessoa dorme mais do que o necessário ou experimenta sonolência excessiva durante o dia. Essa condição pode estar relacionada à depressão de várias maneiras.
Pessoas com depressão frequentemente relatam sentir-se extremamente cansadas e sem energia. Isso pode resultar em uma sensação de sonolência excessiva durante o dia, levando a cochilos frequentes ou a um aumento na duração do sono noturno.
Muitas vezes, a depressão pode afetar os padrões de sono, levando a um sono fragmentado durante a noite ou despertar precoce pela manhã. Para compensar a perda de sono durante a noite, algumas pessoas com depressão podem dormir excessivamente durante o dia.
Os sintomas psicológicos, típicos da doença, como tristeza profunda, desesperança e ansiedade, podem ser emocionalmente exaustivos. O sono excessivo pode ser uma forma de escapar temporariamente desses sentimentos dolorosos.
É importante notar que o sono excessivo não é necessariamente uma característica definidora da depressão. Algumas pessoas com depressão podem experimentar insônia, enquanto outras têm hipersonia. Além disso, o sono excessivo pode ser um sintoma de outros distúrbios médicos ou psiquiátricos, além da depressão.
Outras modificações no padrão de sono
Os impactos da depressão sobre o sono não se limitam apenas a insônia ou hipersonia. Um exemplo disso é o aumento da latência do sono, o que significa que a pessoa leva mais tempo na cama antes de conseguir adormecer de fato. Esse fenômeno tem um efeito negativo na chamada eficiência do sono.
Esse tipo de padrão também pode aumentar o risco de ansiedade, criando um ciclo vicioso: quanto mais difícil é adormecer, maior a ansiedade, o que por sua vez piora o sono, agravando ainda mais os sintomas da depressão.
Além disso, a arquitetura do sono, ou seja, como a pessoa passa pelas diferentes fases do sono, também é afetada. O sono leve (Fase 1), por exemplo, torna-se mais predominante, levando a mais despertares e microdespertares durante a noite.
Por outro lado, a proporção de sono profundo diminui, e esse estágio é responsável pelo processamento de memórias positivas, relaxamento do corpo e mente, e promoção da criatividade – fatores cruciais para a saúde mental.
O sono REM, no qual a maioria dos sonhos ocorre e as memórias são consolidadas, também é reduzido em pessoas com depressão, especialmente nas fases finais do sono. Em situações normais, o sono REM tende a aumentar à medida que a noite avança.
É por todas essas razões que o tratamento da depressão deve incluir necessariamente cuidados com o sono, interrompendo o ciclo vicioso que se forma entre esses fatores. Isso pode ser feito por tratamento médico ou práticas educacionais, como a promoção da higiene do sono.
Dormir bem é fundamental para uma vida melhor e para a saúde mental adequada.
Um ciclo complexo entre sono ruim e depressão
O vínculo entre o sono e a depressão é uma dança de influências mútuas. Em outras palavras, em muitos casos, é uma incógnita determinar qual dos dois é o catalisador primário – se o sono precário ou o distúrbio mental. Ambos os cenários são plausíveis.
Assim, em muitos casos essa relação é tão intrincada que determinar qual deles se manifestou primeiro em um caso específico se revela uma tarefa verdadeiramente desafiadora, exigindo uma investigação minuciosa.
Pesquisas do National Institute of Mental Health dos Estados Unidos destacaram que 14% dos participantes com insônia desenvolveram um transtorno de depressão significativo um ano depois. Por outro lado, aqueles que conseguiram superar suas dificuldades para dormir durante esse período tiveram um risco 24,5 vezes menor.
Em contrapartida, um sono inadequado atua como um agente estressor que, com o tempo, pode desencadear uma série de desafios cognitivos e de humor, potencialmente servindo como combustível para a depressão. A insônia pode aumentar em até quatro vezes o risco de desenvolver depressão.
Dessa forma, com segurança podemos afirmar que investir no bem-estar do sono hoje é zelar não apenas pela saúde mental no presente, mas também assegurar um futuro mentalmente saudável. A simples ação de deitar-se uma hora mais cedo pode reduzir em 23% o risco de depressão grave
Hábitos saudáveis de sono são a chave para uma saúde mental e um sono de qualidade
À medida que mergulhamos mais profundamente nas complexidades da relação entre o sono e a depressão, torna-se claro que esses dois aspectos fundamentais da nossa saúde estão entrelaçados de maneira íntima e poderosa. A depressão pode roubar a paz do nosso sono, tornando as noites um campo de batalha emocional. Por outro lado, noites mal dormidas podem aprofundar a escuridão da depressão, criando um ciclo de sofrimento difícil de quebrar.
Da mesma forma, adotar hábitos saudáveis de sono, como manter um horário regular de dormir, criar um ambiente propício para o descanso e evitar estimulantes antes de dormir, pode ajudar a melhorar a qualidade do sono e, por consequência, aliviar alguns dos sintomas da depressão.